Apresentação do Vale Abraão

Photo credit: José Alfredo Almeida

É difícil separar esta obra, o romance de Agustina, do filme do mesmo nome, de Manoel de Oliveira, uma vez que correspondeu a uma encomenda destinada especificamente a ser posta em filme, e assim tudo se desenvolve numa óptica de localização, visualização, e até da construção de um diálogo distribuído de acordo com um encadeamento muito cénico.

“Estou a escrever uma Nova Bovary. O livro segue o texto de Flaubert, adaptado a uma mulher dos nossos dias, descobrindo uma realidade constante, da natureza feminina, independente dos costumes e das épocas”.

(Entrevista de Agustina a Maria João Avilez – Público, 2 de Outubro de 1990)

No dossier onde está a “Sinopse da Bovary” (é assim que Agustina a classifica), vemos que houve uma preparação para esse livro, muito cuidada. Ao contrário do que é voz corrente, que Agustina se lançava a escrever um romance, de jacto, que tudo lhe surgia na ponta da caneta como por uma estranha inspiração, de contornos misteriosos, vemos através de notas, leituras sublinhadas, pequenos apontamentos, que havia todo um tempo de maturação e de convívio com os lugares e os personagens que iria desenvolver.

A par desta “ Sinopse de Bovary”, surge uma outra, escrita provavelmente antes da definitiva.

Neste outro projecto, com o qual certamente Agustina teria tido um envolvimento diferente, são descritas 12 cenas:

- A história começa numa casa no Moledo, a casa de Ema, onde ela leva uma vida provinciana e acanhada.

- Casa com o médico de província, e vão viver para o Porto. Aqui, desencadeia-se todo o processo enquadrado no “bovarismo” de Flaubert.

- Ema entra numa vida de gastos e de dívidas, e apaixona-se por um capitão que prepara uma revolução.

- Ema é expulsa da sociedade, torna-se associal, e cada vez mais extravagante. Gosta da provocação, e é tomada como exemplo de corrupção.

- O casal Bovary compra uma casa isolada, à beira-rio, na Barca-do-Lago. O marido arruína-se, para a castigar. Ema não se surpreende com a ruína, mantem-se fiel, mas não o ama. Ele morre num desastre de automóvel que ele próprio provoca.

- Ema vai para Lisboa, acaba numa casa de mulheres. Diz ter atingido a serenidade dos imbecis.

Ela diz:

«Nasci com o desejo de morrer e mantenho-me assim, com a consciência de estar a mais neste mundo. E no outro? Veremos».

O filme acaba aqui.

(Escreveu Agustina)

 

Descarregar Manuscrito da sinopse de a Bovary

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