A Quinta de Cavaleiros (Vila do Conde), em Obras de Agustina.

«Eu vivi em muitos lugares, e de um deles tenho a ideia estranha de que lá vivi por necessidade da minha iniciação no fantástico. Era uma terra perdida, ao norte de Bagunte, nome já por si cancioneiro e razoável de eficácia romântica.»

(Escreveu Agustina em 1966)

 

Fachada da Quinta de Cavaleiros.

 

«O conto aqui publicado narra a aventura de passeios improvisados, em férias escolares de Setembro e na companhia duma prima convidada, através duma quinta próxima das ruínas romanas da Cividade, ao norte de Bagunte. Não está dito, mas a quinta, que pertencia aos pais da personagem Dorinha – e esta identifica-se, autobiograficamente, com a Autora - é a Quinta de Cavaleiros que mais tarde vai aparecer em várias obras de Agustina.»

(«Colar de Flores Bravias». Excerto da introdução, de Alberto Luís)

 

Traseiras da Quinta de Cavaleiros.

«O Condestável* caia aos bocados e nada há lá que recorde os alegres gritos das crianças ao atirar-se no tanque onde corria uma bica de água, dia e noite. Era um canto de prata, como o estalido de um beijo. A grande nogueira morreu.»

(«Antes do Degelo», 2004)

(* O nome que Agustina dá no romance à Quinta de Cavaleiros.)

 

Interior da cozinha da Quinta de Cavaleiros.

 

«A Casa de Cavaleiros não era própria para tranquilizar ninguém. Tinha alçapões tanto nas salas como nos corredores e que comunicavam com as adegas e as cortes do gado. De noite e de dia ouviam-se os chifres dos bois bater no sobrado; como nos habituávamos àquilo, não tínhamos medo. O medo é uma questão de hábito, mas há quem não entenda assim.»

(«O Soldado Romano», 2007)

 

Boneco recortado em papel. Autoria: Agustina Bessa-Luís.

“Quando chegou Setembro, naquele ano, a menina gorda que se chamava Dorinha convidou a prima para o resto das férias na Quinta. A quinta tinha sido comprada há pouco tempo, estava arrasada, cheia de cepas velhas, e ficava perto da vila, mas num buraco antigo onde outrora tinham pousado os Romanos ou Celtas ou gente assim. As duas primas acharam muito bom ir para lá, porque eram férias e enquanto eram férias era bom estar em qualquer parte, comer pão com manteiga, e brincar com bonecos de papel recortados e desenhados a tinta azul.”

(«Colar de Flores Bravias», 2013)

 

Capa de Colar de Flores Bravias, Ilustrações de Mónica Baldaque (2013).

Aldeia de Corvos.

«Recordações daquelas férias que eram como um colar de flores bravias, recordações murchavam como as flores do colar. Mas ainda eram flores – e com o perfume seco das coisas sem fim a que a gente chama saudade.»

(«Colar de Flores Bravias», 2013)

 

Capela da Quinta de Cavaleiros.

 

«A capela, outrora forrada com preciosos azulejos do Rato, destinara-a a lenheira; tinha ainda altares pintados com motivos do Apocalipse, anjos que empunhavam uma foice, outros que tinham na mão a chave do abismo.»

(«Homens e Mulheres», 1967)

 

Capitéis, Quinta de Cavaleiros.

 

«…a estranha, arruinada, perdida casa de Cavaleiros…Não era uma casa de família. Pertencera ao antigo domínio dos Condes do mesmo nome, e, antes deles, ao Condestável Nun’Álvares. Por alturas do século XVI devia ter sido soberba com a grande varanda de seis colunas de pedra rematadas por capitéis de carrancas.»

(«Cividade», 2012)

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