Tempos de Guerra
Todas as sociedades em crise esperam na guerra a solução dos seus problemas. O desemprego resolve-se, calam-se as imprecações, reforçam- se as alianças. A rápida morte acelera os passos e não dá aos homens tempo de julgar e de escolher. No mais íntimo, as pessoas dizem: «matemos, que é por uma boa causa.» As guerras começam com o pretexto de servir o bem público e acabam por saciar a crueldade dos homens. A crueldade dos poderosos é a glória dos humildes, mas ninguém paga a desolação da terra. A guerra é alimentada pela ignorância. A ignorância é uma forma de destruição. Quem não sabe donde vem o vento, por ele será empurrado. Quem não compreende o que é o corpo que usamos, nele será perdido. São palavras honestas e sábias. Mas os tempos não são de sábios nem são honestos. São de guerra.
(Agustina Bessa-Luís, 2003 – Caderno de Significados)